Casa n.º 6 —
Restelo
Esta é a nossa primeira intervenção sobre um edifício Português Suave – o estilo arquitectónico distintivo do Estado Novo. Neste caso, uma casa construída nos anos 40 e que devia ser actualizada para acomodar uma família do nosso tempo. A casa estava praticamente intacta e, se é certo que a sua linguagem revela uma ideologia política e um conjunto de aspirações que são hoje consensualmente condenados, não é menos verdade que está muito bem construída, fruto de um desenho eficaz e de um emprego hábil dos recursos disponíveis.
Uma distância temporal e emocional ao contexto em que a casa surgiu permitiu-nos olhar para ela sem um sentido de retaliação ou glorificação, mas antes como matéria pronta a usar, na medida individual do desejo e da necessidade. A composição espacial da casa e a sua linguagem – uma etnografia fabricada – são aceites como tal. As novas paredes, janelas, portas e armários, são reconhecivelmente novas mas não estabelecem uma relação dialéctica com os elementos originais: antes uma coexistência pacífica e silenciosa.
No piso térreo, uma sucessão de pequenos espaços mono-funcionais em torno do átrio de entrada – escritório, sala de estar, sala de jantar e cozinha – são unidos num único espaço pluri-funcional atravessado por luz natural e vistas do jardim. Nos pisos superiores, os espaços íntimos sofrem pequenas alterações para alcançarem a mesma dignidade espacial e material dos espaços sociais em baixo. Dentre estes espaços a mudança mais substancial ocorreu no sótão, onde o quarto das criadas passou a quarto principal, disposto em torno de um grande lanternim que alberga espaços de banho. Já tínhamos explorado a ideia de um espaço como dispositivo sensível para captar a luz e a passagem do tempo no Apartamento n.º 3, se bem que aqui a luz surge mais autónoma e absoluta.
Nome | Casa n.º 6 — Restelo |
Localização | Lisboa, Portugal |
Área Construída | 400 m² |
Área do Terreno | 435 m² |
Conclusão | 2016 |
Equipa | Vasco Matias Correia, Patrícia Ferreira de Sousa, Sebastien Alfaiate e Joana Ramos |
Fotografia | Nelson Garrido |